Semana Criativa de Tiradentes é mergulho no Brasil profundo
Semana Criativa de Tiradentes é mergulho no Brasil profundo

Semana Criativa de Tiradentes é mergulho no Brasil profundo

A sétima edição do evento, realizado de 19 a 22 de outubro em Tiradentes, uniu o trabalho de artesãos à indústria do design com exposições de produtos, palestras e rodas de conversa sobre as manualidades, modos de fazer e repensar práticas vigentes. Foto por: Eugênio Sávio

A cidade histórica de Tiradentes é um destino que vale a pena ser desbravado em qualquer época do ano. Mas para quem busca referência e inspiração no atual movimento do design brasileiro, a realização da Semana Criativa de Tiradentes, que tem à frente os idealizadores Simone Quintas e Junior Guimarães, é um roteiro cheio de conteúdo, vivências e histórias incríveis.

Foto por: Thaís Andressa

Esse foi o motivo que levou a jornalista Simone Bobsin do Portal ARQSC, de Florianópolis, a arrumar as malas rumo ao destino. Como nas edições anteriores, a sétima edição do evento ocorreu no centro histórico da cidade mineira, no período de 19 a 22 de outubro.

“A Semana é uma imersão no fazer ancestral na perspectiva contemporânea. O mais bacana é ver o respeito aos artesãos, eles são os protagonistas e estão em pé de igualdade com os designers. A Semana proporciona conexão com as manualidades, as histórias que transformam a realidade, com projetos que valorizam o fazer coletivo, além da troca e a produção de conhecimento no campo do design, da arte e do artesanato a partir da reflexão sobre fazeres ancestrais, técnicas, linguagens, levantando questões sobre a visibilidade dos profissionais negros e indígenas. É uma oportunidade de aproximação com outros territórios e nós, de Santa Catarina, queremos estar presentes cada vez mais para mostrar a potente produção regional”

Simone Bobsin – Jornalista

Para aproveitar tudo que a farta programação oferece é preciso organizar um roteiro para não se perder com tantas boas opções. Os bate-papos e palestras trouxeram temas relevantes para o mercado nacional, enriquecidos com a pluralidade de pontos de vista e perspectivas dos palestrantes. Como a conversa “Bordado neo contemporâneo: arte e liberdade no trabalho do Matizes Dumont”.

A mostra “Metamorfoses dos fios e das tramas – Mulheres (entre)linhas” exibiu os bordados especiais de artistas mineiros sobre a força do feminino, verdadeiros registros poético-visuais que simbolizam a busca por valores humanos, sociais e ambientais. Foto por: Caca Bratke

Ter a oportunidade de ouvir a história dos irmãos Demóstenes, Marilu, Martha e Sávia Dumont da região de Pirapora(MG), nos mais de 30 anos dedicados às artes visuais e gráficas é para guardar na caixinha de memórias. E, ainda, perceber a conexão das manualidades com o desenvolvimento humano, um futuro aterrado no respeito às gerações, às vozes tecidas em paisagens bordadas.

Foto por: João Bertholini

“Aprendemos a técnica do bordado com a nossa mãe, nessa manualidade que aproxima gerações. Trabalhamos com o conceito neo contemporâneo que tem a ver com o colocar a sua caligrafia no bordado. Se colocar nesse mundo, nesse ponto, pois bordar é uma forma de linguagem, de expressão e um exercício de humanização. É também um enunciado e registro da vida brasileira para a transformação social. O tecido é um campo aberto para a criatividade e trânsito entre o individual e coletivo”

Demóstenes Dumont – Artista Plástico

Escutas e atitudes

Foto por: Eugênio Sávio

Entre encontros nas ruas de Tiradentes, as festas agitaram as noites e as pessoas no Espaço Festivo da SCT/Vila Chafariz, com muitas trocas e lindas experiências. Houve também momentos fundamentais para repensar conceitos, práticas cotidianas e revisar a produção da arquitetura brasileira. 
Um deles pautado pela arquiteta Gabriela de Matos, pelo fundador da rede @arquiteturadpreto Pedro Rubens com mediação de Stephanie Ribeiro. O trio abordou o assunto “Para ser inovadora e autêntica, a arquitetura precisa ser plural”. E para ser plural é necessário revisar e revisitar a história do país.

Foto por: João Bertholini

“Quando estamos produzindo um projeto de arquitetura, urbanismo para espaços públicos, a gente precisa problematizar várias coisas. Se você tem diversidade nessa mesa, onde o projeto está sendo pensado, com certeza vai integrar mais as pessoas de uma forma mais adequada aos diferentes usuários”

Gabriela de Matos – Arquiteta

Na mesma linha de urgência, o arquiteto Miguel Cañas, do escritório Metroquadrado, falou sobre as vivências em aldeias indígenas que o transformaram de forma irreversível. A palestra “Do barro ao João: arquitetura libertária e o servir em transição de mundos” é relato pessoal de Miguel e como encontrou outros caminhos para semear futuros possíveis.

Foto por: João Bertholini

“Comecei minha relação com a floresta com imersões criativas, buscando a ideia celular para a gestão do nosso escritório. Também com o objetivo de resgatar o humano nas interações de criações na produção de arquitetura, mergulhar nesse outro modo de estar no mundo em sincronia com a natureza. Nessa entrega surgem outros organismos e movimentos criativos e uma percepção sensível da nossa capacidade como humanos que somos”.

Miguel Cañas – Arquiteto

Ressonâncias do design

Foto por: Cacá Bratke

Não tem como falar de arte popular sem mencionar o nome da designer pernambucana Janete Costa. A profissional contribuiu com a valorização das manualidades que ganham espaço na cena contemporânea.

“A produção de Janete iniciou na década de 1950. Ela atuou fortemente no campo do design, design de produto, arquitetura e empreendedorismo social. Eu acho que a Janete foi uma das primeiras a falar sobre as identidades culturais a partir do território onde estão, uma visionária. Ela assinou a curadoria de muitas exposições, foi uma educadora do olhar com um grande repertório da pluralidade. Percebemos a ressonância do seu trabalho no momento atual, o uso da cor como forma de expressão, a presença do artesanato. Janete pensava o Brasil como exercício de cidadania”.

Adélia Borges – Jornalista e Curadora

Nessa edição da Semana Criativa de Tiradentes, Janete Borges recebeu homenagem à altura da sua criação. A exposição “Janete Costa, uma designer brasileira” em cartaz no Sobrado Aimorés, mostrou parte de seu acervo de mobiliário e objetos com pequenas atualizações feitas pelos filhos Lúcia Santos, Mário Santos e Roberta Borsoi em soma com o designer alagoano Rodrigo Ambrosio.

Foto por: Cacá Bratke

Já a arquiteta e produtora de objetos Gabriela Almeida, destacou a mostra “Se fosse pedra”, celebrativa aos 10 anos do estúdio Alva Design. 

“Uso as peças deles em minhas produções. Saber as histórias e conhecer quem está por trás torna tudo mais especial. As peças belíssimas e cheias de história, a cenografia, iluminação e locação – no porão do Museu Padre Toledo – estavam impecáveis. Nada estava ali por acaso: as chapas douradas são matérias-primas da Docol. Os designers desenham para a marca, desenvolveram suportes expositivos que remetem aos “paninhos” que os mineiros usam sempre em suas casas”.

Gabriela Almeida – Arquiteta

Há muitas maneiras de viver a Semana Criativa de Tiradentes. Um universo que desdobra a riqueza da produção brasileira, aflora pensamentos e dilui as distâncias entre os protagonistas do potente movimento cultural em constante efervescência. É um orgulho para o Connectarch poder compartilhar conhecimento sobre essa experiência poderosa que é a Semana Criativa de Tiradentes, com o patrocínio das marcas responsáveis pelo nosso programa de relacionamento, Eliane e Decortiles.

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